Um exemplo para outras escolas
Na Escola Municipal Professora Arlene Marques Almeida, o Programa Dignidade Menstrual tem desempenhado um papel crucial na vida das estudantes, como Amanda, Bárbara, Salvadora e Ana Vitória. Além da distribuição gratuita de absorventes, o programa oferece um suporte essencial, permitindo que as alunas frequentem as aulas com segurança e dignidade.
Antes da implementação do programa, a realidade dessas jovens era marcada por desafios diários. A falta de acesso a itens de higiene menstrual comprometia a frequência escolar de muitas estudantes e afetava diariamente sua autoestima. Em um cenário de vulnerabilidade social, a ausência de recursos para a compra de absorventes era uma barreira para que essas adolescentes não pudessem comparecer às aulas.
Bárbara dos Santos, de 13 anos, aluna do sétimo ano, relata como foi seu primeiro contato com o Programa Dignidade Menstrual. Segundo ela, a abordagem das monitoras foi cuidadosa e respeitosa, criando um ambiente acolhedor para as meninas. “As monitoras nos chamaram na sala de aula. Fui eu e mais duas colegas da minha turma. Elas pediram para a gente levar a mochila, assim poderíamos guardar os absorventes de forma discreta, sem que os meninos zombassem da gente. Sempre orientam a levar a mochila.
Depois, nos entregaram dois ou quatro pacotes de absorventes”, conta Bárbara, destacando a atenção com que a equipe garantiu que o processo fosse respeitoso e sensível às necessidades das alunas.Amanda de Camargo Silva, de 14 anos, estudante do nono ano, destaca o quanto o Programa Dignidade Menstrual tem sido essencial para sua família. Com três irmãs e a mãe também em idade menstrual, os absorventes que Amanda recebe na escola são compartilhados em casa.
“O programa é muito importante para nós, sabe? Às vezes, a gente não tem dinheiro para comprar um pacote de absorventes. “Eu tenho três irmãs em casa, e minha mãe também precisa. Então, o que eu recebo ajuda a economizar o dinheiro da família. Eu compartilho com as minhas irmãs e, recentemente, até com a minha mãe. Faz muita diferença”, explica Amanda.Para Ana Vitória Barbasante, de 12 anos, a iniciativa oferece apoio às alunas em situações potencialmente constrangedoras, como quando ocorre vazamento menstrual.
Em uma dessas ocasiões, Ana Vitória teve sua roupa manchada durante as aulas, mas recebeu todo o suporte necessário da equipe escolar. “Eu precisei ir até a coordenação para pegar um absorvente, e eles também me emprestaram uma roupa, porque aqui na escola tem roupas para esses casos. Me deram uma calça porque a minha estava manchada. Foi um professor que percebeu e chamou a monitora para me ajudar. No começo, fiquei com muita vergonha de falar, porque não estou acostumada com isso, mas depois a gente vai se acostumando”.
O Programa Dignidade Menstrual ainda enfrenta dificuldades em algumas escolas, seja pela distribuição inadequada de absorventes ou pela falta de orientação sobre educação menstrual conforme estabelecido pela Lei nº 6.662. No entanto, a implementação na Escola Municipal Professora Arlene Marques Almeida tem se destacado por um enfoque diferenciado, buscando superar essas dificuldades. Com uma abordagem sensível e cuidadosa, o programa proporciona não apenas segurança e conforto às estudantes, mas também funciona como um alicerce de dignidade e fortalecimento da autoestima.
A distribuição de absorventes e o apoio oferecido em situações potencialmente constrangedoras representam uma mudança significativa na vida dessas jovens, permitindo que enfrentem o período menstrual sem que isso constitua uma barreira para seu desenvolvimento educacional e pessoal.
"A nossa escola não é só para Ana, é para Maria, para Júlia. Todas menstruam"
Instituído em 2021, o Programa Dignidade Menstrual passou a ser efetivamente implementado nas escolas públicas municipais em 2023. A iniciativa foi criada com o intuito de amparar jovens estudantes que enfrentam dificuldades para acessar itens básicos de cuidado durante o período menstrual, condição que muitas vezes as afasta das salas de aula.Para entender melhor como o programa tem sido conduzido e os desafios que surgiram ao longo desse processo, ouvimos diretoras (os) e monitoras educacionais das escolas participantes.
Em seus relatos, elas compartilham as adaptações necessárias para garantir que o programa alcance seu propósito de promover dignidade e inclusão para alunas em situação de vulnerabilidade menstrual. Esses relatos trazem à tona não apenas as dificuldades enfrentadas pelas escolas, mas também o impacto positivo que o programa pode gerar na vida das estudantes. A iniciativa tem revelado a importância de políticas públicas que assegurem o acesso à educação e saúde menstrual.A coordenadora adjunta da Escola Municipal Professor Licurgo de Oliveira Bastos, Patricia Florencio, relata que, ao oficializar o Programa Dignidade Menstrual, a Secretaria Municipal de Educação (Semede) enviou à escola uma série de documentos com diretrizes sobre a implementação da iniciativa. "Recebemos uma documentação da secretaria oficializando o programa. Também vieram informativos e livros, que espalhamos pelos murais e em áreas comuns da escola.
Além disso, fizemos orientações específicas para as alunas sobre o funcionamento do programa. E, finalmente, chegaram os absorventes", relata Patrícia. Patrícia conta que, inicialmente, o programa foi estruturado para atender prioritariamente alunas cujas famílias são beneficiárias do Bolsa Família. “A seleção é feita com base no cadastro do Bolsa Família. Dentre essas alunas, verificamos quem já menstrua para organizar a entrega dos absorventes. Esse é um cuidado específico para elas”, explica Patrícia.No começo, a escola fornecia apenas um pacote de absorventes por aluna. No entanto, a equipe pedagógica percebeu que muitas não retornavam para buscar novos pacotes nos meses seguintes, o que poderia estar relacionado ao constrangimento ou à timidez. Frente a essa situação, Patricia e a equipe decidiram adaptar a distribuição, passando a entregar dois ou mais pacotes por vez.
"Quando o programa começou, reunimos as alunas e explicamos que poderiam buscar absorventes todos os meses, conforme a necessidade. No início, entregávamos um pacote por vez, mas, com o tempo, percebemos que elas relutavam em voltar mensalmente. Pensamos que talvez fosse por vergonha, então começamos a distribuir uma quantidade maior de uma vez, o que pareceu funcionar melhor para elas”, afirma Patrícia. Para evitar constrangimentos, a equipe pedagógica desenvolveu uma estratégia discreta e cuidadosa para distribuir os absorventes, garantindo que as alunas se sentissem confortáveis ao receberem o benefício. Patrícia, detalha as precauções tomadas para que a entrega ocorresse de maneira a preservar a privacidade das estudantes."Desde o início, tivemos o cuidado de pedir que as alunas viessem com as mochilas ao serem chamadas para buscar os absorventes.
Dessa forma, colocamos o pacote diretamente na mochila, evitando que elas precisem carregá-lo de forma visível até a sala de aula, o que poderia gerar constrangimento. Se entregássemos o pacote diretamente na mão, muitas ficariam desconfortáveis de voltar para a sala dessa forma", explica Patrícia.A equipe também realiza um trabalho de orientação para as alunas que ainda não menstruam, deixando claro que podem procurar a escola quando precisarem do suporte. "Explicamos que, no momento em que começarem a menstruar, podem nos procurar sem receio.
Estamos disponíveis para tirar dúvidas e fornecer os absorventes", completa Patrícia.Nas escolas municipais Profª Arlene Marques Almeida e José Mauro Messias da Silva, as equipes pedagógicas adotaram a mesma abordagem, sempre realizando a entrega dos absorventes com discrição e cuidado para evitar constrangimentos entre as alunas. Em ambas as escolas, as alunas são chamadas até a sala de coordenação com suas mochilas, onde recebem os absorventes de forma reservada, sem exposição. A coordenadora adjunta da escola José Mauro Messias da Silva, Ana Paula da Silva Tavares, relata que, além de entregar diretamente às alunas, eles também mantêm uma reserva de absorventes na coordenação para emergências.
“Não fazemos a entrega diretamente na sala, para evitar que se sintam envergonhadas. Geralmente, chamamos a aluna até a nossa sala e colocamos os absorventes em sua mochila. Algumas meninas ainda dizem que não precisam, mas sempre deixamos claro que esse é um direito delas e que podem nos procurar quando quiserem", explica Ana Paula .A coordenação também mantém um estoque extra de absorventes nas salas do 6º ao 9º ano, atendendo a eventuais necessidades de emergência das alunas.
"A cada semana, reabasteço a coordenação para que sempre haja absorventes disponíveis. Quando fazemos a entrega regular, geralmente de dois a quatro pacotes, colocamos na mochila das alunas, mas também deixamos um pouco na coordenação para qualquer demanda que surja no dia a dia", detalha Ana Paula. Na Escola Municipal Professor Luiz Cavallon, a monitora Sebastiana Gomes Segura, responsável pela entrega dos absorventes, explica que a equipe pedagógica optou por uma abordagem acolhedora e cuidadosa para que as alunas se sintam confortáveis ao receber o benefício.
Como parte dessa estratégia, os absorventes são entregues em embalagens discretas e modernizadas, preparadas com papel pardo. Essa alternativa foi pensada para tornar a distribuição mais confortável e criar um ambiente de acolhimento, respeitando a privacidade das estudantes e evitando possíveis constrangimentos."Os absorventes são colocados em embalagens que compro em lojas especializadas. As monitoras preparam e depois fazemos a entrega para as meninas. Na última vez, distribuímos cinco pacotinhos por aluna; lacramos e grampeamos a embalagem, chamamos a aluna da sala e fizemos a entrega com ajuda da equipe de monitoras.
Prefiro esse método porque elas se sentem menos envergonhadas ao receber", acrescenta Sebastiana.Além das estudantes cadastradas no Bolsa Família, as escolas participantes também fornecem absorventes para todas as alunas que necessitam, independentemente do vínculo ao programa social. Na Escola Municipal Licurgo de Oliveira Bastos, por exemplo, são 211 alunas registradas no Bolsa Família, mas mais de 700 meninas têm acesso aos absorventes gratuitos. “Nunca deixamos de atender qualquer menina que nos procure. Independente de estar no programa, se ela precisar, estamos aqui para entregar e orientar”, afirma Patrícia.
Na Escola Municipal Profª Arlene Marques Almeida, a monitora Rosane Ivanete Rodrigues da Fonseca Souza enfatiza a importância de oferecer o benefício a todas as estudantes. “Inicialmente, os absorventes foram destinados apenas para quem estava no Bolsa Família, mas percebemos que era necessário atender a todas. Afinal, todas menstruam, e todas precisam.
Não é só para Ana, mas para Maria, para Júlia, para todas que enfrentam essa necessidade ", comenta Rosane.Patrícia destaca que o Programa Dignidade Menstrual tem contribuído para a redução da evasão escolar entre as alunas durante o período menstrual.Embora não existam dados específicos que comprovem essa realidade, ela observa que o aumento das visitas à coordenação para retirar os absorventes é um reflexo desse impacto positivo.
"A gente tinha muitas meninas que faltavam na época da menstruação, mas isso tem mudado. Percebemos isso pelas conversas com as alunas e pelas idas à coordenação. Esse resultado, embora não tenha dados formais, é visível.Antes, as meninas diziam que faltavam porque estavam menstruadas ou com cólica, mas agora elas sabem que podem contar com os absorventes e com o apoio da escola. Se a cólica é frequente, orientamos a procurar ajuda médica" comenta Patrícia. Rosane também confirma que a oferta dos absorventes tem feito diferença na frequência escolar. "Quando o programa não existia, as meninas realmente faltavam porque não tinham absorventes.Agora, com o programa, isso não acontece mais, e elas podem continuar vindo à escola normalmente", afirma.
Para as escolas participantes do Programa Dignidade Menstrual, a entrega de absorventes vai muito além de uma simples distribuição de itens de higiene. Ela representa uma ação que traz dignidade, confiança e apoio contínuo para as alunas durante o período menstrual. De acordo com Patrícia, o programa tem mudado a vida das meninas, proporcionando não apenas os absorventes, mas também um suporte emocional e informativo.
Coordenadora adjunta da Escola Municipal Professor Licurgo de Oliveira Bastos, Patricia Florencio